terça-feira, 25 de maio de 2010

Palavras ao vento(Pedro Bial)

A primeira letra do alfabeto é também a primeira letra da palavra



amor e se acha importantíssima por isso!


Com A se escreve "arrependimento" que é uma inútil vontade de


pedir ao tempo para voltar atrás e com A se dá o tipo de tchau


mais triste que existe: "adeus"... Ah, é com A que se faz


"abracadabra", palavra que se diz capaz de transformar sapo em


príncipe e vice-versa...


Com B se diz "belo" - que é tudo que faz os olhos pensarem ser


coração; e se dá a "bênção", um sim que pretende dar sorte.


Com C, "calendário", que é onde moram os dias e o "carnaval",


esta oportunidade praticamente obrigatória de ser feliz com data


marcada. "Civilizado" é quem já aprendeu a cantar ´parabéns pra


você` e sabe o que é "contrato": "você isso, eu aquilo, com


assinatura embaixo".


Com D , se chega à "dedução", o caminho entre o "se" e o


"então"... Com D começa "defeito", que é cada pedacinho que


falta para se chegar à perfeição e se pede "desculpa", uma


palavra que pretende ser beijo.


E tem o E de "efêmero", quando o eterno passa logo; de


"escuridão", que é o resto da noite, se alguém recortar as


estrelas; e "emoção", um tango que ainda não foi feito. E tem


também "eba!", uma forma de agradecimento muito utilizada por


quem ganhou um pirulito, por exemplo...


F é para "fantasia", qualquer tipo de "já pensou se fosse


assim?"; "fábula", uma história que poderia ter acontecido de


verdade, se a verdade fosse um pouco mais maluca; e "fé", que é


toda certeza que dispensa provas.


A sétima letra do alfabeto é G, que fica irritadíssima quando a


confundem com o J. G, de "grade", que serve para prender todo


mundo - uns dentro, outros fora; G de "goleiro", alguém em quem


se pode botar a culpa do gol; G de "gente": carne, osso, alma e


sentimento, tudo isso ao mesmo tempo.


Depois vem o H de "história": quando todas as palavras do


dicionário ficam à disposição de quem quiser contar qualquer


coisa que tenha acontecido ou sido inventada.


O I de "idade", aquilo que você tem certeza que vai ganhar de


aniversário, queira ou não queira.


J de "janela!, por onde entra tudo que é lá fora e de "jasmim",


que tem a sorte de ser flor e ainda tem a graça de se chamar


assim.


L de "lá", onde a gente fica pensando se está melhor ou pior do


que aqui; de "lágrima", sumo que sai pelos olhos quando se


espreme o coração, e de "loucura", coisa que quem não tem só


pode ser completamente louco.


M de "madrugada", quando vivem os sonhos...


N de "noiva", moça que geralmente usa branco por fora e vermelho


por dentro.


O de "óbvio", não precisa explicar...


P de "pecado", algo que os homens inventaram e então inventaram


que foi Deus que inventou.


Q, tudo que tem um não sei quê de não sei quê.


E R, de "rebolar", o que se tem que fazer pra chegar lá.


S é de "sagrado", tudo o que combina com uma cantata de Bach; de


"segredo", aquilo que você está louco pra contar; de "sexo":


quando o beijo é maior que a boca.


T é de "talvez", resposta pior que ´não`, uma vez que ainda


deixa, meio bamba, uma esperança... de "tanto", um muito que até


ficou tonto... de "testemunha": quem por sorte ou por azar, não


estava em outro lugar.


U de "ui", um ài" que ainda é arrepio; de "último", que anuncia


o começo de outra coisa; e de "único": tudo que, pela facilidade


de virar nenhum, pede cuidado.


Vem o V, de "vazio", um termo injusto com a palavra nada; de


"volúvel", uma pessoa que ora quer o que quer, ora quer o que


querem que ela queira.


E chegamos ao X, uma incógnita... X de "xingamento", que é uma


palavra ou frase destinada a acabar com a alegria de alguém; e


de "xô", única palavra do dicionário das aves traduzida para o


português.


Z é a última letra do alfabeto, que alcançou a glória quando foi


usada pelo Zorro... Z de "zaga", algo que serve para o goleiro


não se sentir o único culpado; de "zebra", quando você esperava


liso e veio listrado; e de "zíper", fecho que precisa de um bom


motivo pra ser aberto; e de "zureta", que é como fica a cabeça


da gente ao final de um dicionário inteiro.



Nenhum comentário:

Postar um comentário